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UOL e a arte de torturar os números


UOL e a arte de torturar os números.

Roberto Malvezzi (Gogó)

Um crítico das estatísticas dizia que elas eram “a arte de torturar os números até que eles confessem”. A manchete da UOL hoje comprova a teoria. Mesmo tendo mais apoio hoje que na época das eleições, essa mídia fez questão de dizer que o governo Lula tem baixa aprovação em São Paulo, Paraná, Goiás e Minas Gerais. O Globo foi na mesma linha, mas logo corrigiu e mudou a manchete: “Aprovação de Lula é maior do que a votação que teve em SP, MG, PR e GO, aponta diretor da Quaest”.

UOL poderia exibir as estatísticas de outros estados, inclusive de Santa Catarina, onde o crescimento é ainda maior. Nem vamos falar do Nordeste, porque aí vira chacota! A velha “ditabranda” continua como serpente, troca de casca, mas não perde o veneno.

Agora, quanto ao preço dos alimentos, que muitos apontam como fator decisivo para certa baixa (ainda que pequena) na popularidade de Lula, então é preciso considerar os fatores estruturais dessa questão. Já está claro que o agronegócio tem um discurso de produção alimentar em torno da soja e do milho. Acontece que 80% do milho e da soja são destinados à ração dos animais. Então, é propaganda falsa a grande produtividade dos alimentos por parte do setor. Quem continua produzindo nossa comida básica é a agricultura familiar. Porém, houve uma redução de 4,9 para 2,9 milhões de hectares na área plantada de feijão nos últimos 40 anos e de 1,1 milhão de hectares na área plantada de arroz na última década. Mandioca já foi reduzida há muito tempo e diminuiu a produção da farinha. Os hortifrutigrangeiros, então, só pequenos agricultores com muita paciência continuam a produzi-los.

Essa é a comida básica do brasileiro, afora muitos alimentos regionalizados, como açaí no Norte ou feijão de corda no Nordeste. Então, se o governo Lula quiser sair da armadilha do agronegócio e realmente diminuir os preços dos alimentos, terá que investir na agricultura familiar para aumentar a oferta e baixar os preços via mercado. Essa decisão implica em mais terra para a agricultura familiar (Reforma Agrária), mais crédito e mais assistência técnica. Esse é o item número um nos humores eleitorais da população mais empobrecida, isto é, a alimentação.

“Quero ver se tem atitude e se vai encarar” (Martinalia).