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Franciscus e a vida espalhada no Universo.


Franciscus e a vida espalhada no Universo.

Roberto Malvezzi (Gogó)

“É preciso rastrear as digitais de Deus impressas no Universo”, nos dizia João Paulo II. E Franciscus foi o Papa que melhor rastreou as maravilhas da criação. Laudato Si’ é documento único da história da Igreja Católica.

Esses dias a ciência nos fez uma revelação fundamental para o futuro da humanidade, mas que praticamente passou despercebido da maioria da população mundial, isto é, em um planeta (K2-18 b) que está a 120 mil anos-luz da Terra, o telescópio James Webb detectou a bioassinatura de dois gases ((sulfeto de dimetila (DMS) e o dissulfeto de dimetila (DMDS)), só encontráveis na Terra se produzidos por seres biológicos, particularmente os fitoplânctons.

O mundo científico exige mais provas, entretanto, podemos estar às portas de sair da pré-história da humanidade para nos abrirmos às possibilidades de, não só comprovarmos a existência da vida fora da Terra, mas também de nos encontrarmos definitivamente com outras civilizações inteligentes, que possam ter bilhões de anos de existência.

Essas possibilidades, cada vez mais palpáveis, até pelos ovnis filmados pela Marinha dos Estados Unidos, nos colocam de frente aos mistérios da vida e da criação. A comprovação da vida, quem sabe mais tarde da vida inteligente, muda completamente nosso modo de encarar a história da espécie humana e de todas as formas de vida que habitam nossa Casa Comum, expressão muito ao gosto de Franciscus.

Qual a abertura da mente humana à essas possíveis “revelações”? A Igreja Católica costuma dizer que a “revelação já está completa, mas não totalmente explicitada”. Essa ressalva possibilita que as doutrinas católicas não colidam mais uma vez com as comprovações científicas, como já aconteceu com Galileu Galilei e tantos outros avanços da ciência, como a evolução das espécies e a teoria do monogenismo.

Porém, se nos depararmos mesmo com a vida, particularmente a vida inteligente, será preciso rever toda a Teologia da Criação e toda Teologia da Redenção. Teremos menos desafios numa Teologia da Criação, mas teremos desafios colossais com a Teologia da Redenção, como a Teologia do Pecado Original nos moldes de Santo Agostinho, da condição humana, da evolução das espécies e até mesmo da evolução humana.

Teilhard de Chardin tem problemas até hoje com o Vaticano porque não podia aceitar a teoria do monogenismo (houve um Adão e um Eva) já que nós, o homo sapiens, temos pelo menos 4% do código genético do Homem de Neanderthal. Portanto, cientificamente, se temos dois códigos genéticos, não temos como ser filhos de um único pai e uma única mãe. Esse fato implica na teologia do pecado original, “o pecado que entra no mundo por um só homem”, pior, induzido por uma só mulher. Todos esses temas fronteiriços terão que ser enfrentados.

Por outro lado, para os corações e mentes abertos, encontrar outros seres inteligentes no Universo seria uma glória, não só de Deus, mas também para os seres humanos. Não estaríamos numa solidão cósmica e exclusivista, mas pertenceríamos a um projeto de Deus tão infinito quanto o seu Universo. Aí, sim, onde tudo caminha para o “pleroma”, para a plenitude dos tempos.

Pois bem, essas teologias subalternas da Igreja, como a de Teilhard de Chardin, ou dos franciscanos São Boa Ventura e Duns Scotto (“Jesus veio dentro de um projeto eterno do Criador, não por um acidente de pecado” … “O pecado não pode determinar a vontade de Deus”), tem muito a nos oferecer nos tempos atuais, para respondermos aos desafios que vão se colocando para humanidade em tempos de absolutas novidades, se quisermos, “revelações”.

É preciso que os teólogos mergulhem fundo no legado de Franciscus e na Teologia dos Sinais dos Tempo. As respostas de ontem não respondem aos desafios do mundo de hoje.