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A matança das florestas


A matança das florestas

Roberto Malvezzi (Gogó)

Em 2013 a ONU criou o dia internacional das florestas e fixou o dia 21 de março para essa celebração. Em 2024 o tema é “Florestas e inovação: novas soluções para um mundo melhor”. Nesse sentido, a ONU vê a tecnologia como aliada das florestas e não como seu coveiro. Só aí já teríamos um amplo leque de discussões que não teria mais fim.

Pedro Casaldáliga tem um poema que diz: “quero morrer de pé como uma árvore”. Se mantidas no seu status original, as árvores morrem em pé. Derrubadas pela mão humana, morrem deitadas. Quando são queimadas as cinzas adquirem os contornos da árvore. Então, um ditado nordestino diz que “pau que nasce torto, até a cinza é torta”. O ditado tem um tom fatalista, de realidades que parecem não ter conserto.

Temos ainda aquele ditado que é um princípio de conhecimento: “é capaz de ver a árvore, mas incapaz de enxergar a floresta”. Essa frase indica a incapacidade de muita gente de enxergar a realidade no seu conjunto, fixando o raciocínio apenas em elementos isolados de uma realidade.

O Brasil tem duas florestas de tipo tropical, a Mata Atlântica e a Amazônia. Temos ainda mais duas do tipo savana, o Cerrado e o Pantanal. Ainda temos Caatinga, única na face da Terra e exclusivamente brasileira, com flora xerófila predominante. Finalmente, temos o Pampa, com vastas áreas de gramíneas, mas permeada por florestas mesófilas, florestas subtropicais (particularmente araucária) e florestas estacionais.

Da floresta amazônica dependemos de seu ciclo das águas processado pelos rios voadores; do seu ciclo do carbono para fixá-lo em suas estruturas arbóreas; da sua biodiversidade como fornecedora de alimentos, essências e fármacos; de oferecer abrigo e vida para seus povos; de amenizar o clima em nível global; e tantos e quantos benefícios dali usufruímos, não só os amazônidas, mas todo o Brasil, o Cone Sul da América, o clima global do mundo. Entretanto, ao enxergar somente a “árvore da soja, ou do gado”, o agro e as mineradoras vão matando nossa galinha dos ovos de ouro.

O Cerrado guarda as águas dos Rios Voadores enviados pela Amazônia e as distribui por todo o território nacional. Mas, para termos aquíferos como Bambuí, o Urucuia, o Guarani e outros, é preciso que o Cerrado fique de pé. Mas, na visão unilateral do modelo econômico, algumas cabeças de boi ou alguns pés de soja ainda valem mais que toda riqueza de águas que o Cerrado oferece a todo o povo brasileiro.

Aqui na Caatinga vamos experimentando formas de recaatingamento, para evitar a desertificação da região, que está sendo transformada de semiárida em árida pela ação humana. Pouco nos resta da Mata Atlântica, o Pantanal está sendo modificado e o Pampa empobrecido pela agricultura de mercado.

Sim, o dia da floresta deveria ser sério e nos levar à muitas reflexões. Não poderia ser mais uma celebração banal como tantas outras datas que celebram um dia e esquecem os demais 364 dias do ano!