As cisternas vão aonde o povo está.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Em 2017, na China, durante a 13ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (COP 13), o Programa Hum Milhão de Cisternas (P1MC), da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), foi premiado com um honroso segundo lugar como uma das mais efetivas políticas públicas para áreas em processo de desertificação do mundo.
Agora, em 2023, no seu relatório sobre a situação da água no mundo, a ONU volta a citar o Programa das Cisternas como uma das soluções para a crise global da água – que faz parte da Crise Civilizacional Global -, não só colocando água para um milhão de famílias, como evitando sofrimentos e literalmente a morte.
Esse programa tem um “ovo de Colombo”, isto é, as cisternas de placas inventadas por um pedreiro baiano chamado Nel, que fazia piscinas para ricos em São Paulo. Quando voltou para o sertão, decidiu aplicar a mesma tecnologia para captar água de chuva para sua casa, uma prática centenária no Semiárido Brasileiro, mas que não tinha uma tecnologia adequada para armazenar a água de forma saudável e eficiente. A ASA articulou milhares de entidades que tivessem essa mesma sede e daí surgiram vários programas na lógica do Paradigma da Convivência com o Semiárido. O P1MC é um deles e já colocou uma cisterna no pé da casa de 1 milhão de famílias, cerca de 5 milhões de pessoas.
Esses dias o novo governo retoma os investimentos no Paradigma da Convivência com o Semiárido, esvaziado por Temer e Bolsonaro, investindo nessas tecnologias da água, seja para beber, seja para produzir, seja agora para o reuso de águas com as tecnologias de saneamento básico rural. Esse é um salto de qualidade inimaginável, já que as “cisternas vão aonde o povo está”, como um artista que tem consciência de seu papel socioambiental. Essas tecnologias exigem uma arte de rendeira, que tece ponto a ponto sua renda, até que ela se faça uma peça completa.
Aproveitemos o momento político favorável. Só o povo pensa no povo. Raramente surge um presidente como Lula, ou um Papa como Francisco. E, como diz Francisco, é de baixo que vem as soluções para o povo, já que são os “poetas sociais” (Movimentos Populares Socioambientais) que conseguem plantar a esperança onde ela já não existe mais.