A volta do Q.I, isto é, quem indica.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Acabar com os concursos públicos, instalar a demissão do funcionalismo público e a instabilidade no cargo, não tem nenhum gesto de grandeza ou de preocupação com o dinheiro público. É simplesmente a volta do “quem indica”.
Paulo Freire, quando voltou do exílio, vinha aqui para a região de Juazeiro e costumava ficar uma semana inteira conosco. Já naquela época ele nos dizia: a direita europeia é reacionária, mas é competente. A brasileira é reacionária e incompetente.
Nos últimos anos houve uma profunda mudança nos serviços públicos, onde quase todos os cargos passaram a ser conquistados por concursos. Só que gerou um problema: gente pobre, vindo das periferias, conseguindo um diploma por acesso ao ensino público, e com muito talento, passou a desbancar gente despreparada que alcançava os melhores empregos públicos por indicação, já que os políticos e apaniguados do Estado já não podiam nomear ou indicar seus parentes e amigos para tais cargos.
Essa equação irritou os políticos que, além de perder o poder de nomear seus parentes e amigos, perderam também um curral eleitoral a partir do poder que detinham.
Sim, esse é o problema de Guedes, dos Bolsonaros, de Maia e de toda uma direita incompetente que não consegue cargo algum a não ser na base da indicação.
Guedes chamou o funcionalismo de parasitas – então, também os militares, policiais, políticos, juízes, enfim, todos que dependem do Estado? – com o objetivo de desqualificar a estabilidade e instalar a demissão por parte do Estado. Mas, ele, como ministro, então também é um parasita do Estado ao receber para o cargo que ocupa.
A nobreza do que está em jogo é apenas o vil interesse nos melhores cargos e no superpoder de indicar quem eles quiserem.