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Quando o domingo era do Senhor


Quando o domingo era do Senhor

Roberto Malvezzi (Gogó)

A reforma nas leis trabalhistas trouxe mais uma novidade grotesca, isto é, o fim do descanso aos domingos para o mundo dos trabalhadores e trabalhadoras. É uma mudança na cultura do chamado mundo ocidental que não ocorria há quase 2 mil anos.

Foi o cristianismo que instituiu o domingo como o dia do Senhor. Era para marcar a diferenciação com o sábado, dia de descanso dos judeus, o dia também que o Criador descansou depois do exaustivo trabalho de criar o Universo.

Mas, o domingo é ainda o dia da ressurreição de Cristo, por isso também o dia do Senhor. Então, em função de uma cultura em forma de cristandade, o domingo também passou a ser o dia do descanso na sociedade civil. É um dia respeitado no mundo inteiro.

Acontece que o domingo não é só o dia da missa, mas também da reunião da família, dos amigos, do lazer, do futebol, assim por diante. Enfim, um dia para o descanso e para o encontro, ainda que no dia seguinte os trabalhadores e trabalhadoras – que segundo Bolsonaro não sabem o que é vida sacrificada dos patrões – tenham que retomar a dura rotina do trabalho, mesmo que no fim do mês ganhem um mísero salário que não dá para sustentar suas famílias.

Pois bem, a reforma trabalhista do atual governo acaba com o descanso obrigatório aos domingos por parte dos patrões. Em nome da liberdade econômica, eles poderão exigir que seus empregados se dirijam ao trabalho no dia que quiserem, inclusive aos domingos. Mais que nunca, vale a frase de Chaplin em seu discurso no famoso filme “O Grande Ditador”: “não sois máquinas, homens é que sois”.

Acontece que o domingo foi abolido no Brasil como dia do Senhor e dia do descanso, sob o silêncio das igrejas, até agora inclusive da Igreja Católica. Aqueles que tanto defendem a família não são capazes de defender o dia que a família – talvez o único – possa realmente estar junta.

Realmente no governo de Bolsonaro e Guedes, juntamente com todos seus seguidores, “deus está acima de tudo”. Mas não o Deus Criador, que descansou no sétimo dia, nem o Deus de Jesus ressuscitado, com seu dia de domingo, mas o “deusnheiro”, o deus dos patrões, do capitalismo, que não teve escrúpulo algum de roubar as migalhas do BPC e do salário mínimo, e agora roubar dos trabalhadores, trabalhadoras – inclusive do Deus verdadeiro – até seu dia de descanso.