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Violência, a parteira da história?


Violência, a parteira da história?

– C. da Fraternidade 2018 –

Roberto Malvezzi (Gogó) 

Para Marx a violência é a parteira da história. É só por ela que o novo nasce.

Um cientista afirmou esses dias que a humanidade só conheceu a igualdade após períodos de grande violência, como a Segunda Guerra Mundial. Estima-se que nessa guerra 47 milhões de pessoas perderam a vida, sendo 26 milhões de soviéticos.

Na natureza, principalmente na cadeia alimentar, os mais fortes devoram os mais fracos. Os jovens leões, quando conquistam o território dos leões mais velhos, lhes roubam as fêmeas e depois matam todos os filhotes do antigo rei do pedaço. É o “Struggle for Existence” (life) de Darwin. Malthus trouxe esse princípio para o convívio social.

O próprio Universo foi parido por explosões violentas e não é possível entender a formação do mundo sem ela. Os cientistas dizem que nós, os humanos, só estamos aqui porque o choque de um meteoro bloqueou a atmosfera por anos, eliminando a vida dos dinossauros, possibilitando que evoluíssem os mamíferos, portanto, chegando até nós.

Há quem pense que o Brasil, enquanto não conhecer um confronto sangrento, onde as mortes aconteçam aos milhares de ambas as partes, jamais será um país justo. Só assim a elite escravocrata, que continua no poder, passaria a respeitar o povo.

Entretanto, a violência mata 60 mil pessoas por ano no Brasil, a maioria jovens, desses a maioria negra, dessa a maioria do sexo masculino. É uma verdadeira assepsia social a cada ano para prevalecer os interesses dos escravocratas.

Estatísticas nos disseram esses dias que cinco brasileiros concentram a riqueza de mais de 100 milhões de compatriotas. Ainda mais, 1% de brasileiros concentra 81% da renda nacional, ficando os outros 205 milhões com a tarefa de dividir entre si os 19% da riqueza restante. Mesmo assim há quem defenda maior concentração de renda, de propriedade, de poder e que essa minoria seja cada vez mais defendida à bala. A violência estrutural é a mãe de todas as violências, já diziam os bispos católicos em 1968 em Medellin, Colômbia.

Na verdade, a violência é, sobretudo, o controle do poder. Um general estadunidense afirmou que o importante mesmo é o “complexo industrial-militar”. Os exércitos do mundo aqui encontram sua razão de ser. Em plena Campanha da Fraternidade o Exército Brasileiro ocupa o Rio de Janeiro e é apoiado pela classe dominante e a Igreja Católica local.

Mas, há uma outra linhagem histórica de luta pela paz. Muitos dos grandes pacifistas da humanidade morreram violentamente, não porque praticavam a violência, mas porque os violentos detestam a paz que é fruto da justiça. Jesus, Gandhi, Luther King, Chico Mendes, Dorothy Stang, todos foram vitimados por defenderem a paz e a justiça. Mas, eles e elas nos ensinam que ser pacifista nunca foi ser conivente ou omisso diante da violência estrutural e pontual. Denunciaram essas situações a tal ponto de terem suas vidas sacrificadas pela paz.

Espero que nossas comunidades e grande parte da sociedade brasileira sejam capazes de ir fundo no debate sobre a violência nesse violento Brasil, particularmente em 2018, onde a violência declarada quer ocupar o poder central.

Não podemos perder de vista o “golpe” – e todos os golpistas –  que deu sequência a esse Brasil violento que vem desde nossas origens.