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Água nas eleições


Aécio disse que vai promover um tsunami para varrer o PT. Lula não perdeu a piada e disse que seria melhor que provocasse um tsunami para encher os reservatórios da Cantareira. Portanto, a questão da água vai estar nessas eleições, ainda que seja por caminhos enviesados, não como merece e precisa ser tratado.
A paisagem de vários e grandes rios nesse momento é o retrato do descaso da civilização brasileira para com eles. A situação já diagnosticada do desmando com nossos mananciais – de superfície e subterrâneos – até agora não implicou em uma nova concepção de relação e cuidado. O fio de água a que está reduzido o São Francisco na região de Pirapora ou entre Sergipe e Alagoas, as pedras expostas do fundo do Rio Grande na divisa de Minas com São Paulo, o leito seco do Tietê na região de Pirapora, a dramática situação dos reservatórios da Cantareira, a longa estiagem que acabamos de atravessar aqui no Semiárido, nenhuma dessas gritantes realidades parece comover políticos, corporações técnicas e capitalistas da água.  Aumenta a demanda pela água e conjuntamente a irresponsabilidade no seu uso. A diminuição das chuvas apenas agrava, mas não é a causa fundamental do problema, a não ser que decidamos levar à sério as mudanças climáticas.
Esses dias, num debate no Instituto do Semiárido Brasileiro (INSA), vinculado ao ministério das Ciência e Tecnologia, em Campina Grande, os especialistas nos diziam que situação do Semiárido é pior que a diagnosticada no Atlas do Nordeste pela Agência Nacional de Águas que já indica colapso hídrico de centenas de municípios da região até 2015. Também em um debate na TV Benedito Braga – Conselho Mundial da Água – dizia que a situação dos mananciais brasileiros é pior do que as aparências indicam, inclusive o da Cantareira.
Quando quisemos debater a sério a Transposição de Águas do São Francisco, o governo se recusou e a grande mídia também. As empreiteiras, então, essas simplesmente querem obras. Quando quisemos debater a sério as mudanças no Código Florestal, particularmente aquelas que impactam diretamente os mananciais – proteção de nascentes, matas ciliares, etc. – os ruralistas nos tratoraram, apoiados inclusive por alguns parlamentares e intelectuais de esquerda. Quando criticamos abertamente a demanda de água para irrigação no Semiárido, inclusive de cana, nos dizem que somos os defensores do atraso. Entretanto, já secaram o sistema Cantareira, secaram a água subterrânea da Chapada Diamantina, estão secando as águas dos aquíferos do Oeste Baiano que abastecem o São Francisco, secaram as águas da Chapada do Apodi para irrigar frutas. Na região de Irecê, secaram a barragem de Mirorós para irrigar banana e tiveram que fazer rapidamente uma adutora do São Francisco para abastecer a região. Mesmo assim, no mapa da irrigação brasileira, se fala em irrigar mais 29 milhões de hectares. Dizem que esse é o futuro e que essa é a realidade de outros países. Só não dizem que a demanda de água para irrigação – 70% da água doce utilizada no mundo –  é uma das causas fundamentais da crise da água no planeta.
Nem a cheia do rio Uruguai – e a tragédia social vivida pela população – anula esse debate. Pelo contrário, representa apenas a outra face da mesma realidade.
No atual cenário brasileiro, só vejo a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) como aquela que tem atitudes consequentes com a realidade da água e tem sido capaz de construir tecnologias, programas e políticas públicas de cuidado para com a água. De resto, só iniciativas pontuais e discursos.

Pois é, nessas eleições a água será elemento de debate, ainda que tarde. Difícil saber em que nível – ou desnível – ele se dará. Teremos água nessas eleições, mas não sabemos se teremos água nas torneiras. Isso sim é o atraso.