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Paulo Freire, “fome e sede”.


Nem no túmulo Paulo Freire deixará seus inimigos em paz. Eles o veem pela janela, pelas palavras, no vento, no sol, nos sonhos e pesadelos, inclusive o governo aí posto.

Não é sem razão. A leitura de mundo que ele tanto defendia é radicalmente diferente do letramento. Ler a sociedade brasileira, sua construção histórica, o papel das classes, de cada etnia, o significado da cor no Brasil, traz efetivamente desconforto para muitas pessoas, inclusive para cada um de nós.

[Novo papa] Periferias existenciais


Ainda que de uma forma contida, há muita esperança nas bases com o novo Papa. Ele trouxe de volta palavras, propostas e anúncios que há muito não víamos mais dentro de nossas Igrejas: “uma Igreja dos pobres e para os pobres; que os padres se aproximem do povo; aproximar-se do povo é mais que uma autoajuda, é crescer na graça de Deus; lembrar a crise ambiental; estar a caminho nas pegadas de Jesus, etc.” Mas, inovou ao nos chamar para as “periferias existenciais”. Só o tempo nos dirá o que significa essa expressão tão densa como uma estrela de nêutrons.

“Louvado Seja”, Papa Francisco


A encíclica ecológica do Papa começa na dose mais vasta e profunda que poderia ter: “Nós somos terra. Todo nosso corpo é constituído de elementos do planeta, seu ar é aquele que nos dá a respiração e sua água vivifica e restaura” (Tradução pessoal do texto italiano, número 2).
Esse é ponto de partido exato de qualquer reflexão sobre a vida sobre a Terra. Do ponto de vista biológico, somos qualquer animal, parte da terra, dependentes dela e, sem água, sem comida, sem ar, sem um ambiente próprio para a vida, morremos como todos os outros animais.
Lembrando São Francisco, o Papa diz que a Terra é “mãe e irmã”. Portanto, toda a comunidade da vida só pode ser entendida nessa irmanação universal.
O Papa não esquece, desde o início da encíclica, de lembrar que a Terra está “oprimida e devastada” e, retomando Paulo em Romanos 8, reafirma que ela “geme em dores de parto”.