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O Velho Chico na Velho Chico


Roberto Malvezzi (Gogó)

Quando surgiu a notícia que haveria uma novela chamada “Velho Chico”, nós por aqui ficamos de orelha em pé. Nossa pergunta era: que abordagem irão fazer do rio São Francisco?

Depois os autores passaram por aqui – Edmara Barbosa e o filho Bruno -, conversaram com muita gente, inclusive comigo por umas cinco horas, e pareciam dispostos realmente a ouvir, a fazer uma novela que transparecesse a realidade do Velho Chico.

Tempos depois, por indicação de Letícia Sabatella, ainda fiz a oficina inaugural no Rio de Janeiro para atores, diretores e produtores.

Ali, no intervalo, fiquei surpreso com a procura de vários atores querendo informações, detalhes, do que poderiam fazer pela causa. Notei particularmente o interesse dos atores e atrizes nordestinos, muita gente jovem, como Lucy Alves, Irandhir Santos, mas também Domingos Montagner, Marcelo Serrado, Rodrigo Lombardi, além da própria Letícia.

O detalhe é que, na fala de seus personagens, eles podem colocar uma palavra, uma frase por decisão própria. É nesse momento que as informações precisas são fundamentais.

Depois do processo de Impeachment fiquei com tamanha aversão ao jornalismo político da Globo – e da mídia corporativa em geral – que já não suporto ligar na emissora. Além do mais, a última novela que tinha visto na vida foi Roque Santeiro.

Entretanto, por respeito a esses autores, atores e atrizes, vez em quando vejo a novela.

Boas surpresas apareceram. Uma cena do pescador (José Dumont) derramando uma lágrima nas correntezas do Velho Chico foi uma das mais belas que vi. Boas discussões sobre o saneamento, o uso do veneno na irrigação, a tentativa de alargar o papel do São Francisco para o contexto do paradigma da Convivência com o Semiárido, são questões que não esperávamos aparecer.

Não seria honesto negar que esse conjunto de pessoas – incluindo o diretor, Luiz Fernando – não estejam fazendo um esforço de trazer um quadro mais real do Velho Chico.

Um senão é a figura do coronel Afrânio. A transição do personagem não foi bem feita. Os coronéis modernos vestem Armani, andam de jatinho, tem apartamentos e mansões sofisticadas, dominam os meios de comunicação e sempre são ministros de Estado, senão eles, seus filhos. Mas, diante da expectativa, está melhor que o esperado.

Poderiam também ter incorporado a musicalidade nativa do São Francisco, particularmente a música Boato Ribeirinho, a expressão máxima da dramaticidade do Chico. Foi declamada uma vez por Yolanda – Christiane Torloni -, há uma bela música de Paulo Araújo (há um rio afogando em mim), além de outra de Geraldo Azevedo. A trilha sonora é belíssima, mas poderia ser mais nativa.

Os atores e atrizes – aí é o talento brasileiro – são excelentes em sua maioria.

Por fim, claro que uma novela é um folhetim. Não se pode esperar dela a profundidade de uma obra de arte. Porém, como diz uma jovem jornalista da CPT da Bahia, “não menosprezem a força dos folhetins”.